A SEMANA DA ARTE MODERNA (1922)
O que foi?
A Semana de Arte Moderna aconteceu durante os dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. Cada dia da Semana foi dedicado a um tema: pintura e escultura, poesia e literatura e por fim, música. Apesar de ser conhecida como a Semana da Arte Moderna, as exposições aconteceram somente nesses três dias:
No dia 13, Graça Aranha proferiu a conferência "A emoção estética na arte", na qual elogiou os trabalhos expostos, investiu contra o academicismo, criticou a Academia Brasileira de Letras e proclamou os artistas da Semana como personagens atuantes na "libertação da arte".
No dia 15, Oswald de Andrade leu alguns de seus poemas e Mário de Andrade fez uma palestra intitulada "A escrava não é Isaura", onde se referia ao "belo horrível" e evocava a necessidade do abrasileiramento da língua e da volta ao nativismo.
Na noite do dia 17, houve a apresentação de Villa-Lobos. A Semana prestigiou e promoveu o talento do artista, transformando-o, pela boa acolhida do grande público, na figura máxima do período nacionalista do qual se insere a produção musical modernista
A Semana de 1922 representa o marco do lançamento público do Modernismo Brasileiro, uma vez que os artistas que lá exibiam suas obras tinham como objetivos a ruptura com as tradições acadêmicas, a atualização das artes e da literatura brasileiras em relação aos movimentos de vanguarda europeus e o encontro de uma linguagem autenticamente nacional. A idéia era atualizar culturalmente o Brasil, trazendo as influências estrangeiras, colocando-o ao lado dos países que já haviam atingido sua independência no plano das idéias, das artes plásticas, da música e da literatura. A partir dela, iniciou-se uma década de polêmicas, provocações, invenções, brigas estéticas, enfim, uma farra que parecia inesgotável, levando Mário de Andrade a afirmar que os oito anos que se seguiram à "festa" do Teatro Municipal foram "a maior orgia intelectual que a história artística registra".
Agora que foi explicado o que foi o evento, seus objetivos, é provável que se pense: Mas, como surgiu a idéia de montar uma Semana de Arte Moderna? Mário de Andrade deixa bem claro, que não foi dele: "Por mim não sei quem foi, nunca soube, só posso garantir que não fui eu". Porém, com a ajuda de registros do livro de memórias de Di Cavalcanti chamado "Viagem de Minha Vida - Testamento da Alvorada", ele assinala que foi ele o idealizador da Semana de Arte Moderna, tendo como um modelo a Semana de Deauville, na França. Assim ele sugeriu a Paulo Prado a realização de "uma semana de escândalos literários e artísticos de meter estribos na burguesiazinha paulistana". Analisando agora o evento, há que se dizer que o público não teve a mesma reação frente aos diferente tipos de arte. As artes plásticas foram as que tiveram melhor repercussão.
Cronologia
Alguns Fatos Importantes que Antecederam a Semana de Arte Moderna de 1922
1911 — Oswald de Andrade funda o periódico "O Pirralho"
1912 — Oswald chega ao Brasil trazendo da Europa o conhecimento de novas formas de expressão artística, como as de Paul Fort e as sugeridas pelo "Manifesto Futurista" do poeta italiano Marinetti. Surgem as primeiras colagens de Braque e Picasso, possíveis origens do cubismo
1913 — Exposição do pintor Lasar Segall em Campinas (São Paulo)
1914 — O francês Marcel Duchamp lança os ready-mades
1915 — O poeta Ronald de Carvalho participa no Rio da fundação da revista "Orfeu", dirigida em Portugal por Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro
1917 — Exposição de Anita Malfatti. O escritor Monteiro Lobato escreve o artigo "Paranóia ou Mistificação?", onde critica vigorosamente as inovações na pintura de Anita e se envolve em uma polêmica com os principais artistas do movimento modernista
1918 — É lançado o "Manifesto Dadá"
1919 — Surgimento do Fascismo na Itália e adesão de Marinetti
1920 — Oswald de Andrade e Menotti del Picchia fundam a revista "Papel e Tinta". Graça Aranha publica "Estética da Vida". Victor Brecheret expõe as maquetes do monumento às Bandeiras (SP). Exposição de Anita Malfatti e John Graz.
1921 — Oswald de Andrade publica "Meu Poeta Futurista" e Mário de Andrade responde com "Futurista?!". Mário publica o artigo "Mestres do Passado"
Influências externas
O Modernismo é uma designação ampla da tendência vanguardista de romper com padrões rígidos e caminhar para uma criação mais livre, verificada internacionalmente nas artes e na literatura a partir do fim do século XIX e início do XX. Trata-se de uma reação ao academismo, parnasianismo, romantismo, realismo, naturalismo e simbolismo.
Desde o início do século, o panorama nacional era de identificação e ecletismo. Além de propor uma renovação, o que tem clara influência dos princípios modernizadores estrangeiros, os idealizadores da Semana de 22 defendem a criação de uma arte vinculada à realidade brasileira. Expressam um espírito revolucionário que rejeita a arte do século XIX e as influências estrangeiras do passado, e defende a absorção de algumas tendências estéticas internacionais para que elas se mesclem com as nossas culturas populares e indígenas.
Em 1917, Anita Malfatti realiza a que é considerada de fato a primeira exposição de arte moderna brasileira. Recém-chegada da Europa, ela expõe telas influenciadas pelo cubismo, expressionismo e futurismo que causam escândalo, entre elas A Mulher de Cabelos Verdes.
Antecedentes
Mário de Andrade (primeiro à esquerda, no alto), Rubens Borba de Moraes (sentado, segundo da esquerda para a direita) e outros modernistas em
1922, dentre os quais (não identificados) Tácito, Baby, Mário e Guilherme de
Almeida e Yan de Almeida Prado
Alguns
eventos que direta ou indiretamente motivaram a realização da Semana de 1922,
mudando as atitudes dos jovens artistas modernistas:
- 1912. Oswald de Andrade retorna da Europa,
impregnado do Futurismo de Marinetti, e afirmando que “estamos atrasados cinquenta
anos em cultura, chafurdados ainda em pleno Parnasianismo”.
- 1913. Lasar Segall, pintor lituano, realiza “a primeira
exposição de pintura não acadêmica em nosso país”, nas palavras de Mário de Andrade.
- 1914. Primeira exposição de
pintura de Anita Malfatti, que retorna da Europa
trazendo influências pós-impressionistas.
- 1917. – Mário de Andrade e Oswald de Andrade, os dois grandes líderes da
primeira geração de nosso Modernismo, se tornam amigos.
- Publicação de Há uma
gota de sangue em cada poema; livro de poemas de Mário de Andrade, que utilizou o pseudônimo
Mário Sobral para assinar essa obra pacifista, protestando contra
a Primeira Guerra Mundial.
- Publicação de Moisés e
Juca Mulato, poemas regionalistas de Menotti Del Pichia, que conseguem sucesso
junto ao público.
- Publicação de A cinza
das horas, de Manuel Bandeira.
- O músico francês Darius Milhaud, que vive no Rio de
Janeiro e entusiasma-se com maxixe, samba e os chorinhos de Ernesto Nazareth, se encontra com Villa-Lobos. O então jovem compositor,
já impressionado com a descoberta de Stravinski, entra em contato com a
moderna música francesa.
- Segunda exposição de Anita Malfatti, exibindo quadros
expressionistas, criticados com dureza por Monteiro Lobato, no artigo “Paranoia ou
mistificação?”, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, Esse
artigo é considerado o “estopim” de nosso modernismo, já que provocou a união
dos jovens artistas, levando-os a discutir a necessidade de divulgar
coletivamente o movimento.
- 1919. Publicação de Carnaval,
de Manuel Bandeira, já com versos livres.
- 1921. Banquete no Palácio Trianon, em homenagem ao lançamento de As máscaras,
de Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade faz um discurso, afirmando
a chegada da revolução modernista em nosso país.
- Exposições de quadros de Vicente do Rego Monteiro, em Recife e no Rio de
Janeiro, explorando a temática indígena.
- Mostra de desenhos e
caricaturas de Di Cavalcanti, denominada “Fantoches
da Meia-noite”, na cidade de São Paulo.
- Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Cândido Mota Filho e Mário de Andrade divulgam o Modernismo, em
revistas e jornais.
- Mário de Andrade escreve a série Os
mestres do passado, analisando esteticamente a poesia parnasiana que
estava no auge da reputação literária e mostrando a necessidade de
superá-la, porque a sua missão já foi cumprida.
- Oswald de Andrade publica um artigo sobre os
poemas de Mário de Andrade, intitulando-o “O meu
poeta futurista”. A partir de então, apesar da recusa de Mário de Andrade em aceitar a designação, a
palavra “futurismo” passa a ser utilizada indiscriminadamente para
toda e qualquer manifestação de comportamento modernista, em tom na
maioria das vezes pejorativo. Em contrapartida, os modernistas chamam de
“passadistas” os defensores da tradição em geral.
A Semana
A Semana,
de uma certa maneira, nada mais foi do que uma ebulição de novas ideias
totalmente libertadas, nacionalista em busca de uma identidade própria e de uma
maneira mais livre de expressão. Não se tinha, porém, um programa definido:
sentia-se muito mais um desejo de experimentar diferentes caminhos do que de
definir um único ideal moderno.
- 13 de fevereiro (Segunda-feira) - Casa
cheia, abertura oficial do evento. Espalhadas pelo saguão do Teatro Municipal
de São Paulo, várias pinturas e esculturas provocam reações de espanto e
repúdio por parte do público. O espetáculo tem início com a confusa
conferência de Graça Aranha, intitulada "A emoção estética da Arte
Moderna". Tudo transcorreu em certa calma neste dia.
- 15 de fevereiro (Quarta-feira) - Guiomar Novais era para ser a grande atração da noite.
Contra a vontade dos demais artistas modernistas, aproveitou um intervalo
do espetáculo para tocar alguns clássicos consagrados, iniciativa
aplaudida pelo público. Mas a "atração" dessa noite foi a
palestra de Menotti del Picchia sobre a arte estética. Menotti apresenta os
novos escritores dos novos tempos e surgem vaias e barulhos diversos
(miados, latidos, grunhidos, relinchos…) que se alternam e confundem com
aplausos. Quando Ronald de Carvalho lê o poema intitulado Os
Sapos de Manuel Bandeira, (poema criticando
abertamente o parnasianismo e seus adeptos) o público faz coro
atrapalhando a leitura do texto. A noite acaba em algazarra. Ronald teve
de declamar o poema pois Bandeira estava impedido de fazê-lo por causa de
uma crise de tuberculose.
Importantes figuras do modernismo, em 1922. Mário de Andrade (sentado), Anita Malfatti (sentada, ao centro) e Zina Aita (à
esquerda de Anita).
- 17 de fevereiro (Sexta-feira) - O dia mais
tranquilo da semana, apresentações musicais de Villa-Lobos, com participação de vários músicos. O
público em número reduzido, portava-se com mais respeito, até que Villa-Lobos entra de casaca, mas com um pé calçado com um
sapato, e outro com chinelo; o público interpreta a atitude como futurista
e desrespeitosa e vaia o artista impiedosamente. Mais tarde, o maestro
explicaria que não se tratava de modismo e, sim, de um calo inflamado…
Desdobramentos
Vale
ressaltar, que a Semana em si não teve grande importância em sua época, foi com
o tempo que ganhou valor histórico ao projetar-se ideologicamente ao longo do
século. Devido à falta de um ideário comum a todos os seus participantes, ela
desdobrou-se em diversos movimentos diferentes, todos eles declarando levar
adiante a sua herança.
Ainda
assim, nota-se até as últimas décadas do Século XX a influência da Semana de
1922, principalmente no Tropicalismo e na geração da Lira Paulistana nos anos 70 (Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, entre outros). O próprio nome
Lira Paulistana é tirado de uma obra de Mário de Andrade.
Mesmo a Bossa Nova deve muito à turma modernista, pela sua lição
peculiar de "antropofagia", traduzindo a influência da música popular
norte-americana à linguagem brasileira do samba e do baião.
A
principal forma de divulgação destas novas ideias se dava através das revistas. Entre as que se destacam, encontram-se:
Literatura:
Mário de Andrade - Oswald de Andrade - Graça Aranha - Ronald de Carvalho -
Menotti del Picchia - Guilherme de Almeida - Sérgio Milliett
Música e Artes Plásticas:
Anita Malfatti - Di Cavalcanti - Santa Rosa - Villa-Lobos - Guiomar Novaes
Se a Semana é realizada por jovens inexperientes, sob o domínio de doutrinas européias nem sempre bem assimiladas, conforme acentuam alguns críticos, ela significa também o atestado de óbito da arte dominante. O academicismo plástico, o romantismo musical e o parnasianismo literário esboroam-se por inteiro. Ela cumpre assim a função de qualquer vanguarda: exterminar o passado e limpar o terreno.
É possível, por outro lado, que a Semana não tenha se convertido no fato mais importante da cultura brasileira, como queriam muitos de seus integrantes. Há dentro dela, e no período que a sucede imediatamente (1922-1930), certa destrutividade gratuita, certo cabotinismo*, certa ironia superficial e enorme confusão no plano das idéias..
Mário de Andrade dirá mais tarde que faltou aos modernistas de 22 um maior empenho social, uma maior impregnação "com a angústia do tempo". Com efeito, os autores que organizaram a Semana colocaram a renovação estética acima de outras preocupações importantes. As questões da arte são sempre remetidas para a esfera técnica e para os problemas da linguagem e da expressão. O principal inimigo eram as formas artísticas do passado. De qualquer maneira, a rebelião modernista destrói o imobilismo cultural - que entravava as criações mais revolucionárias e complexas - e instaura o império da experimentação, algo de indispensável para a fundação de uma arte verdadeiramente nacional.
Caberia ainda ao próprio Mário de Andrade - verdadeiro líder e principal teórico do movimento - sintetizar a herança de 1922:
- A estabilização de uma consciência criadora nacional, preocupada em expressar a realidade brasileira.
- A atualização intelectual com as vanguardas européias.
- O direito permanente de pesquisa e criação estética.
A Semana e a realidade brasileira
A Semana de Arte Moderna insere-se num quadro mais amplo da realidade brasileira. Vários historiadores já a relacionaram com a revolta tenentista e com a criação do Partido Comunista, ambas de 1922. Embora as aproximações não sejam imediatas, é flagrante o desejo de mudanças que varria o país, fosse no campo artístico, fosse no campo político.
Um dos equívocos mais freqüentes das análises da Semana consiste em identificá-la com os valores de uma classe média emergente. Ela foi patrocinada pela elite agrária paulista. E os princípios nela expostos adaptavam-se às necessidades da refinada oligarquia do café. Uma oligarquia cosmopolita, cujos filhos estudavam na Europa e lá entravam em contato com o "moderno". Uma oligarquia desejosa de se diferenciar culturalmente dos grupos sociais. Enfim, uma classe que encontrava no jogo europeísmo (adoção do "último grito" europeu) - primitivismo (valorização das origens nacionais) - que marcaria a primeira fase modernista - a expressão contraditória de suas aspirações ideológicas.
Outro equívoco é considerar o movimento como essencialmente antiburguês. O poema Ode ao burguês, de Mário de Andrade, e alguns escritos de outros participantes da Semana podem levar a esta conclusão. Mas não esqueçamos que a burguesia rural, vinculada ao café, apoiou os jovens renovadores. E, além disso, toda crítica dirigia-se a um tipo de burguesia urbana, composta geralmente de imigrantes, inculta, limitada em seus projetos, sem grandeza histórica, ao contrário das camadas cafeicultoras, cujo nível de refinamento cultural e social era muito maior.
Neste caso, os modernistas se comportam como aqueles velhos aristocratas que menosprezam a mediocridade dos "novos-ricos". No início da década de 30, Oswald de Andrade já perceberia o quão contraditória era a sua crítica ao universo das classes citadinas. Daí o prefácio do romance Serafim Ponte Grande, em 1933.
A situação "revolucionária" desta bosta mental sul-americana, apresentava-se assim: o contrário do burguês não era o proletário - era o boêmio! As massas, ignoradas no território e como hoje, sob a completa devassidão econômica dos políticos e dos ricos. Os intelectuais brincando de roda.
* Iconoclasta: destruidor de ícones, de valores consagrados.
* Enfunando: inflando.
* Martelado: alusão ao martelo do escultor, com quem o poeta parnasiano se comparava.
* Frumento: o melhor trigo.
* Cognatos: que tem a mesma raíz.
CURIOSIDADES
Um dos cartazes da «Semana», satirizando os
grandes nomes da música, da literatura e da pintura |
Sacudindo as estruturas da arte tupiniquim
A Semana de Arte Moderna de 22, realizada entre 11
e 18 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, contou com a
participação de escritores, artistas plásticos, arquitetos e músicos.
Seu objetivo era renovar o ambiente artístico e
cultural da cidade com "a perfeita demonstração do que há em nosso meio em
escultura, arquitetura, música e literatura sob o ponto de vista rigorosamente
atual", como informava o Correio Paulistano a 29 de janeiro de 1922.
A produção de uma arte brasileira, afinada com as
tendências vanguardistas da Europa, sem contudo perder o caráter nacional, era
uma das grandes aspirações que a Semana tinha em divulgar.
Independência e sorte
Esse era o ano em que o país comemorava o primeiro
centenário da Independência e os jovens modernistas pretendiam redescobrir o
Brasil, libertando-o das amarras que o prendiam aos padrões estrangeiros.
Seria, então, um movimento pela independência
artística do Brasil.
Os jovens modernistas da Semana negavam, antes de
mais nada, o academicismo nas artes. A essa altura, estavam já
influenciados esteticamente por tendências e movimentos como o Cubismo, o
Expressionismo e diversas ramificações pós-impressionistas.
Até aí, nenhuma novidade nem renovação. Mas,
partindo desse ponto, pretendiam utilizar tais modelos europeus, de forma
consciente, para uma renovação da arte nacional, preocupados em realizar uma
arte nitidamente brasileira, sem complexos de inferioridade em relação à arte
produzida na Europa.
Um grupo importante de renovadores
De acordo com o catálogo da mostra, participavam da
Semana os seguintes artistas: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Zina Aita, Vicente
do Rego Monteiro, Ferrignac (Inácio da Costa Ferreira), Yan de Almeida Prado,
John Graz, Alberto Martins Ribeiro e Oswaldo Goeldi, com pinturas e desenhos;
Marcavam presença, ainda, Victor Brecheret,
Hildegardo Leão Velloso e Wilhelm Haarberg, com esculturas; Antonio Garcia Moya
e Georg Przyrembel, com projetos de arquitetura.
Além disso, havia escritores como Mário de Andrade,
Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Sérgio Milliet, Plínio Salgado, Ronald
de Carvalho, Álvaro Moreira, Renato de Almeida, Ribeiro Couto e Guilherme de
Almeida.
Na música, estiveram presentes nomes consagrados,
como Villa-Lobos, Guiomar Novais, Ernâni Braga e Frutuoso Viana.
Primeira foto:
Da esquerda para a direita: Brecheret, Di Cavalcanti, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade e Helios Seelinger Segunda foto: Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. Por ocasião da «Semana», Tarsila se achava em París e, por esse motivo, não participou do evento . |
Uma cidade na medida certa para o evento
São Paulo dos anos 20 era a cidade que melhor
apresentava condições para a realização de tal evento. Tratava-se de uma
próspera cidade, que recebia grande número de imigrantes europeus e modernizava-se
rapidamente, com a implantação de indústrias e reurbanização.
Era, enfim, uma cidade favorável a ser transformada
num centro cultural da época, abrigando vários jovens artistas.
Ao contrário, o Rio de Janeiro, outro polo
artístico, se achava impregnado pelas idéias da Escola Nacional de Belas-Artes,
que, por muitos anos ainda, defenderia, com unhas e dentes, o academicismo.
Claro que existiam no Rio artistas dispostos a
renovar, mas o ambiente não lhes era propício, sendo-lhes mais fácil aderir a
um movimento que partisse da capital paulista.
Os primórdios da arte moderna no Brasil
Em 1913, estivera no Brasil, vindo da Alemanha, o
pintor Lasar Segall. Realizou uma exposição em São Paulo e outra em Campinas,
ambas recebidas com uma fria polidez. Desanimado, Segall seguiu de volta à
Alemanha, só retornando ao Brasil dez anos depois, quando os ventos sopravam
mais a favor.
A exposição de Anita Malfatti em 1917, recém
chegada dos Estados Unidos e da Europa, foi outro marco para o
Modernismo brasileiro.
Todavia, as obras da pintora, então afinadas com as
tendências vanguardistas do exterior, chocaram grande parte do público,
causando violentas reações da crítica conservadora.
A exposição, entretanto, marcou o início de uma
luta, reunindo ao redor dela jovens despertos para uma necessidade de renovação
da arte brasileira.
Além disso, traços dos ideais que a Semana propunha
já podiam ser notados em trabalhos de artistas que dela participaram (além de
outros que foram excluídos do evento).
Desde a exposição de Malfatti, havia dado tempo
para que os artistas de pensamentos semelhantes se agrupassem.
Em 1920, por exemplo, Oswald de Andrade já falava
de amplas manifestações de ruptura, com debates abertos.
|
Capa de
Di Cavalcanti para o Catálogo da Exposição |
Revolução em marcha
Entretanto, parece ter cabido a Di Cavalcanti a
sugestão de "uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os
estribos na barriga da burguesiazinha paulistana."
Artistas e intelectuais de São Paulo, com Di
Cavalcanti, e do Rio de Janeiro, tendo Graça Aranha à frente, organizavam a
Semana, prevista para se realizar em fevereiro de 1922.
Uma exposição de artes plásticas - organizada por
Di Cavalcanti e Rubens Borba de Morais, com a colaboração de Ronald de
Carvalho, no Rio - acompanharia as demais atividades previstas.
Graça Aranha, sob aplausos e vaias abriu o evento,
com sua conferência inaugural "A Emoção Estética na Arte Moderna".
Anunciava "coleções de disparates" como
"aquele Gênio supliciado, aquele homem amarelo, aquele carnaval
alucinante, aquela paisagem invertida" (temas da exposição plástica da
semana), além de "uma poesia liberta, uma música extravagante, mas
transcendente" que iriam "revoltar aqueles que reagem movidos pelas
forças do Passado."
Em 1922, o escritor Graça Aranha
(1868-1931) aderiu abertamente à Semana da Arte Moderna, criando uma cisão na
quase monolítica Academia Brasileira de Letras e gerando nela uma polêmica como
há muito tempo não se via.
Dois grupos de imortais se
engalfinhavam, um deles liderado por Graça Aranha, que pretendia romper com o
passado. O outro, mais sedimentado na velha estrutura, tinha como seu líder o
escritor Coelho Neto (1864-1934). Os dois nordestinos, os dois maranhenses, os
dois com uma força tremenda junto a seus pares. Eram conterrâneos ilustres, que
agora não se entendiam, e que pretendiam levar suas posições até as últimas
conseqüências.
Então, numa histórica sessão da
Academia, no ano de 1924, deu-se o confronto fatal. Após discursos inflamados e
uma discussão áspera entre ambos, diante de uma platéia numerosa, um grupo de
jovens carregou Coelho Neto nas costas, enquanto outro grupo fazia o mesmo com
Graça Aranha. (Paulo
Victorino, em "Cícero Dias")
Mário de Andrade, com suas conferências, leituras
de poemas e publicações em jornais foi uma das personalidades mais ativas da
Semana.
Oswald de Andrade talvez fosse um dos artistas que
melhor representavam o clima de ruptura que o evento procurava criar.
Manuel Bandeira, mesmo distante, provocou inúmeras
reações de agrado e de ódio devido a seu poema "Os Sapos", que fazia
uma sátira do Parnasianismo, poema esse que foi lido durante o evento.
Um dos cartazes colocados no Teatro Municipal de São Paulo, anunciando a Semana de Arte Moderna . |
A imprensa, controlada,ignorou o "escândalo"
Entretanto, acredita-se que a Semana de Arte
Moderna não tenha tido originalmente o alcance e amplitude que posteriormente
foram atribuídos ao evento.
A exposição de arte, por exemplo, parece não ter
sido coberta pela imprensa da época. Somente teve nota publicada por
participantes da Semana que trabalhavam em jornais como Mário de Andrade,
Menotti del Picchia e Graça Aranha (justamente os três conferencistas, cujas
idéias causaram grande alarde na imprensa).
Yan de Almeida Prado, em 72, chegou mesmo a declarar que" a Semana
de Arte Moderna pouca ou nenhuma ação desenvolveu no mundo das artes e da
literatura", atribuindo a fama dos sete dias aos esforços de Mário e
Oswald de Andrade.
Bem intencionados,mas ainda confusos
Além disso, discute-se o "modernismo" das
obras de artes plásticas, por exemplo, que apresentavam várias tendências
distintas e talvez não tivessem tantos elementos de ruptura quanto seus autores
e os idealizadores da Semana pretendiam.
Houve ainda bastante confusão estilística e
estrangeirismos contrários aos ideais da amostra, como demonstram títulos como
"Sapho", de Brecheret, "Café Turco", de Di Cavalcanti,
"Natureza Dadaísta", de Ferrignac, "Impressão
Divisionista", de Malfatti ou "Cubismo" de Vicente do Rego
Monteiro.
A dispersão
Logo após a realização da Semana, alguns artistas
fundamentais que dela participaram acabam voltando para a Europa (ou indo lá
pela primeira vez, no caso de Di Cavalcanti), dificultando a continuidade do
processo que se iniciara.
Por outro lado, outros artistas igualmente
importantes chegavam após estudos no continente, como Tarsila do Amaral, um dos
grandes pilares do Modernismo Brasileiro.
Não resta dúvida, porem, que a Semana integrou
grandes personalidades da cultura na época e pode ser considerada importante
marco do Modernismo Brasileiro, com sua intenção nitidamente anti-acadêmica e
introdução do país nas questões do século.
A própria tentativa de estabelecer uma arte
brasileira, livre da mera repetição de fórmulas européias foi de extrema
importância para a cultura nacional e a iniciativa da Semana, uma das pioneiras
nesse sentido.
Alunos: JACKSON nº16, JOZIANE nº19, MARCOS nº24
FONTES:
http://www.pitoresco.com.br/art_data/semana/index.htm
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